As enchentes, além dos danos materiais evidentes, trazem consigo uma série de desafios à saúde pública, sendo responsáveis pela proliferação de diversas enfermidades. Entre as doenças decorrentes de enchentes mais comuns estão a leptospirose, a hepatite A, o tétano acidental, entre outras.
Conhecer melhor essas doenças e seguir as recomendações de prevenção pode fazer a diferença na saúde das comunidades afetadas por enchentes, minimizando os riscos e garantindo dessa forma um atendimento eficaz em caso de sintomas.
Neste texto, utilizando como base as informações do Guia Básico para Riscos e Cuidados com a Saúde após Enchentes do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), compartilhamos orientações essenciais para a prevenção e o manejo das doenças decorrentes de enchentes. Siga a leitura e veja como proteger a saúde de todos!
Sintomas e prevenção das principais doenças decorrentes de enchentes
1) Leptospirose
O que é? Doença causada por bactéria presente na urina de ratos infectados.
Como ocorre o contágio? A bactéria pode entrar no corpo através de cortes, arranhões, olhos, nariz, boca ou pele imersa por longos períodos em água ou lama contaminada.
Como reduzir o risco? Cubra os cortes ou arranhões com bandagens à prova d’água, não ande descalço, use luvas e sapatos impermeáveis, evite nadar, tomar banho ou ingerir água que possa estar contaminada com água de enchente.
Quais os sintomas? Febre, dor de cabeça, dor muscular (principalmente panturrilhas), falta de apetite, náuseas e vômitos. Os sintomas surgem normalmente de 5 a 14 dias após a contaminação, podendo chegar a 30 dias.
Mediante os sintomas será preciso procurar um médico imediatamente e relatar que teve contato com alagamentos.
Tem tratamento? Sim. Em situações de enchentes ele começa com base nos sintomas, independentemente do resultado do exame. O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece o medicamento.
2) Hepatite A
O que é? Doença causada por vírus presente nas fezes de humanos infectados.
Como ocorre o contágio? Ingerindo água ou alimentos contaminados com esgoto ou dejetos humanos.
Como reduzir o risco? Vacinando as crianças conforme o Calendário Nacional de Vacinação. Além disso, deve-se reforçar hábitos e desinfetar objetos, bancadas e chão.
Quais os sintomas? Mal-estar, prostração, febre, mialgia, náuseas, vômitos, urina escura, fezes esbranquiçadas, pele e olhos amarelados. Os sintomas surgem entre 15 e 45 dias após a contaminação.
O que devo fazer? Procurar atendimento médico e relatar que esteve em local de enchente.
Tem tratamento? Não tem tratamento específico. Sintomas como náuseas e vômitos são tratados, e realizado o acompanhamento do caso. Além disso, na suspeita, evite o uso do medicamento Paracetamol, que pode agravar o quadro.
A vacina da Hepatite A está disponível no SUS. Excepcionalmente para situações de enchente, a aplicação da vacina em adultos será realizada dispensando a avaliação prévia junto ao CRIE, mantendo as indicações do Programa Nacional de Imunizações e os registros nos sistemas de informação vigentes.
3) Tétano Acidental
O que é? Doença causada por bactéria que vive no ambiente.
Como ocorre o contágio? Pela contaminação de ferimentos de pele ou em mucosas, com terra, poeira, fezes humanas ou de animais.
Como reduzir o risco? Vacine-se periodicamente conforme Calendário Nacional de Vacinação. Não ande descalço, use luvas e sapatos impermeáveis.
Se houver lesão da pele/mucosa, lave a ferida com água e sabão e procure o serviço de saúde mais próximo para avaliar a necessidade de utilização de vacina ou soro.
Quais os sintomas? Febre baixa, dificuldade de deglutição, aumento anormal do tônus muscular, aumento dos reflexos dos músculos e tendões, contrações musculares repentinas, agudas e involuntárias. Os sintomas surgem de 3 a 21 dias após a contaminação.
Deve-se procurar atendimento médico se houver acidente com lesão de pele ou se ocorrerem sintomas, mesmo que esteja com a vacinação em dia.
Tem tratamento? Sim, e é fornecido pelo SUS.
4) Doenças Diarreicas Agudas
O que são? Doenças causadas por bactérias, vírus e parasitas encontrados nos esgotos e nas fezes de animais.
Como ocorre o contágio? Não higienizando as mãos e levando-as à boca após tocar superfícies contaminadas ou ingerindo alimentos mal lavados ou preparados.
Como reduzir o risco? Consumindo água potável, praticando hábitos de higiene, praticando boas práticas de manipulação de alimentos, não comendo alimentos fora da data de validade, com alterações ou que ficaram fora da geladeira.
Quais os sintomas? Diarreia (aquosa ou semilíquida, podendo ser com muco ou sangue) com mais de 3 episódios em 24 horas. Esses sintomas podem ser acompanhados de mal-estar geral, dor abdominal, náusea, vômito e febre.
O que fazer? As pessoas devem se manter hidratadas e procurar atendimento de saúde. Importante relatar se outras pessoas próximas também apresentam os sintomas e se compartilharam algo em comum (por exemplo, um mesmo abrigo ou uma mesma fonte de alimentos).
Tem tratamento? Sim. O tratamento busca minimizar os sintomas e evitar desidratação. Em alguns casos há medicamentos específicos que devem ser tomados.
5) Doenças Infecciosas Respiratórias
O que são? Doenças que levam a sintomas nos pulmões e vias aéreas superiores. Normalmente os causadores destas doenças são bactérias e vírus, em especial os da Covid-19 e da gripe.
Como ocorre o contágio? De forma direta pelo contato com gotículas respiratórias eliminadas pela pessoa infectada quando tosse, espirra ou fala; de forma indireta pelo contato com superfícies e objetos ou partes do corpo contaminados.
Quais os sintomas? A Síndrome Gripal é caracterizada por pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos. Os sintomas aparecem de 1 a 7 dias após o contato com a fonte de infecção.
O que devo fazer? As pessoas com sintomas gripais devem ser identificadas e preferencialmente deve ser fornecida máscara cirúrgica descartável para uso. O profissional de saúde deve ser avisado para avaliar o caso. Na persistência de sintomas ou agravamento do caso, é imprescindível atendimento no serviço de saúde
Como reduzir o risco das doenças infecciosas respiratórias?
- Lave as mãos com frequência com água e sabão. Na ausência destes, utilize álcool gel 70%;
- Ao tossir ou espirrar, proteja a boca e o nariz com lenço de papel e jogue fora, ou, na falta deste, utilize a dobra interna do cotovelo, nunca as mãos;
- Evite tocar olhos, nariz ou boca, com as mãos não higienizadas e, da mesma forma, evite cumprimentar com abraços, aperto de mãos e beijos se estiver com sintomas gripais;
- Dentro das possibilidades, garanta boa ventilação nos ambientes e estabeleça planos de limpeza e desinfecção diária das superfícies como corrimãos, maçanetas de porta e superfícies de mobiliário;
- Mantenha as vacinas da gripe e da Covid-19 em dia, pois elas evitam formas graves dessas doenças.
6) Acidente por animais peçonhentos
O que são? Acidentes que provocam alterações no corpo humano conforme o tipo de toxina injetada pelo animal peçonhento (aranhas, serpentes, escorpiões, lacraias).
Como ocorrem? Normalmente quando os animais se sentem ameaçados, eles instintivamente reagem atacando.
Como reduzir o risco? Tomando cuidado ao remover materiais de locais com entulhos, empilhamento de madeira, tijolos, telhas e na remoção da lama. Bem como, utilizando luvas e botas de borracha nestas atividades. Não tocando em animais peçonhentos, mesmo que pareçam mortos.
Quais os sintomas? Os sintomas variam de alterações locais e regionais até choque anafilático.
O que devo fazer? Lave o local da ferida com água e sabão, e mantenha a vítima sentada ou deitada. Se a ferida for na perna ou no braço, coloque-os em posição mais elevada. Leve a vítima ao serviço de saúde mais próximo para que possa assim receber atendimento. Não amarre e igualmente não corte o local da ferida.
Tem tratamento? Sim, é necessário soro antiveneno conforme a espécie que agrediu.
Em casos de acidentes com animais peçonhentos, entre em contato com o CIT pelo telefone 0800 721 3000. A ligação é gratuita e o serviço de plantão de urgência funciona 24 horas por dia durante os 7 dias da semana.
Compartilhe informações de saúde preventiva
Como vimos, as enchentes trazem desafios significativos à saúde pública, promovendo a proliferação de doenças. Portanto, prevenir e manejar essas enfermidades é essencial para proteger a saúde das comunidades afetadas. Portanto, siga as recomendações de prevenção, mantenha a vacinação em dia e, ao identificar sintomas, busque atendimento médico imediato.
Compartilhe estas informações essenciais com amigos e familiares, e ajude a difundir práticas que podem salvar vidas durante e após enchentes. A prevenção é a melhor forma de cuidado!
* Confira também aqui no blog o post Limpeza após enchente: veja os riscos e quais cuidados você deve ter com a saúde.