A vida no Rio Grande do Sul mudou drasticamente após as chuvas que atingiram o Estado. Além do difícil processo de superar perdas, é preciso encontrar forças para recomeçar. Nesse contexto, é inegável que as enchentes impactam a saúde mental de forma bastante severa.
O impacto psicológico dessas catástrofes pode ser devastador e duradouro, afetando não apenas os indivíduos diretamente atingidos, mas também aqueles que acompanham a situação de longe. Por isso, é fundamental identificar o que está acontecendo e buscar apoio para superar essas dores.
Para entendermos melhor como as enchentes impactam a saúde mental, e quais os caminhos para fortalecer o emocional, conversamos com Fernanda Weigert, psicóloga que coordena o programa Mais Saúde da Farmácias Associadas. Confira o bate-papo e conheça algumas estratégias que podem ajudar a trazer conforto neste período.
Em relação à saúde mental, quais os efeitos das enchentes?
As consequências para a saúde mental podem se manifestar tanto a curto quanto a longo prazo, depende de cada pessoa e de cada experiência vivenciada.
Os indivíduos diretamente afetados podem experimentar problemas de saúde mental como ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e sentimento de luto.
Nas primeiras semanas, é comum as pessoas estarem em estado de choque, com um aumento significativo nos níveis de estresse devido ao trauma e a insegurança sobre o futuro.
A longo prazo, problemas como TEPT e ansiedade crônica podem prevalecer e, se não tratados, se tornarem permanentes. Sentimentos de profunda tristeza, falta de concentração, perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas podem persistir, e o estresse prolongado pode afetar relações familiares e sociais.
Como as enchentes impactam a saúde mental de pessoas que não foram diretamente atingidas?
As pessoas que não foram diretamente afetadas pelas chuvas também podem sofrer grandes impactos na sua saúde mental. Todos de certa forma foram atingidos pela catástrofe, seja no papel de telespectador através das mídias e redes sociais, ações de voluntariado ou de ter sido abrigo para amigos ou familiares que perderam tudo.
Ver o sofrimento de todos pode gerar um alto nível de angústia, bem como sentimento de culpa por estar bem ou não ter tido grandes danos materiais, podendo levar a desencadear transtornos como ansiedade generalizada (TAG), transtorno de estresse pós traumático (TEPT), depressão, desajustes na rotina como falta sono, alterações no apetite, entre outros.
E em relação a crianças e adolescentes? Como as enchentes impactam a saúde mental desses indivíduos?
Com as crianças e adolescentes não é diferente: a saúde mental também é afetada. Nesse contexto, o diálogo franco e o suporte dos pais ou cuidadores são fatores muito importantes para o ajustamento psicológico após a catástrofe.
Para os pais e cuidadores pode ser difícil lidar com tantos sentimentos pessoais e ainda ter que amparar as crianças em um quadro tão sofrido, sem a certeza de poderem voltar para suas casas ou até mesmo de explicar porque estamos vendo tantas notícias e histórias tristes pelos meios de comunicação e redes sociais.
Dessa forma, o primeiro passo é não se culpar. Tudo bem não saber por onde começar uma conversa ou não estar dando conta de ser o suporte de sempre para crianças e adolescentes.
É normal também que o comportamento de crianças e adolescentes possa sofrer alterações como: ansiedade, birra, agressividade, algumas estarão mais quietas, tristes ou chorosas, outras mais próximas e mais demandantes que o normal. E nessa hora elas precisam da nossa ajuda para regular essas emoções. Caso os sintomas persistam procure ajuda de um psicólogo.
Em termos de saúde mental, quais os sinais de que é hora de buscar ajuda profissional?
É fundamental compreender que as reações das pessoas diante de uma mesma catástrofe podem ser diferentes. Portanto, é importante evitar comparações nesse momento.
Cada indivíduo é único e atribui significados distintos às experiências pelas quais passa. Assim, é importante ficar atento e identificar as mudanças no comportamento das pessoas após um trauma, bem como a forma como estão lidando com essas mudanças.
São alguns exemplos de sinais de quem está precisando de ajuda profissional:
- Ansiedade ou medo excessivos;
- Não conseguir voltar às atividades habituais;
- Tristeza ou apatia prolongada;
- Raiva;
- Insônia ou sono excessivo;
- Alterações de apetite;
- Sentimento de solidão;
- Abuso de substâncias (álcool, drogas);
- Ideação suicida.
Quais são as estratégias para lidar com o trauma de uma enchente? Como apoiar esses indivíduos?
Para reduzir os efeitos negativos na saúde mental é muito importante promover o autocuidado, necessário em tempos de crise e que pode ajudar a manter o bem-estar emocional e físico de um indivíduo.
Isso inclui, por exemplo, dormir o suficiente, mantendo a boa saúde, dieta saudável e exercícios. Técnicas de relaxamento também podem ajudar, como atenção plena e meditação, e manutenção de conexão e apoio social.
Um diferencial é manter uma rotina, evitar o consumo excessivo de notícias ruins nos meios de comunicação e redes sociais e encontrar atividades divertidas. Recomenda-se também procurar apoio profissional, porque psicólogos, psiquiatras e grupos de apoio podem fornecer apoio especializado.
A reconstrução comunitária e o apoio mútuo podem fortalecer os laços sociais e fazer igualmente com que as pessoas sintam e tenham esperança, um sentido de propósito maior que a própria enchente. Facilitar canais de comunicação eficazes para que as pessoas expressem as suas necessidades e as suas emoções é fundamental.
Onde a comunidade pode buscar apoio profissional?
Indivíduos que estão apresentando sintomas de problemas emocionais ou psicológicos, ou que conhecem alguém que está passando por isso, devem buscar ajuda profissional.
Uma alternativa é recorrer a centros de saúde que ofereçam apoio em saúde mental. Em Porto Alegre, o atendimento de emergência para demandas psiquiátricas ocorre em dois locais:
- Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS) – R. Prof. Manoel Lobato, 151 (Atendimento 24 horas);
- Plantão de Emergência em Saúde Mental IAPI – R. Três de Abril, 90 – Passo d’Areia (Atendimento 24 horas).
Também é possível buscar linhas telefônicas de apoio emocional para conversar com pessoas capacitadas:
- Centro de Valorização da Vida (CVV): serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio, 24 horas por dia. Telefone 188 ou cvv.org.br.
Além disso, o Programa Mais Saúde da Farmácias Associadas segue oferecendo apoio emergencial psicológico gratuito através do WhatsApp 51-98960-0316.
Agora que você já leu sobre como as enchentes impactam a saúde mental, compartilhe esse post com as pessoas próximas. A informação é essencial na hora de agir para cuidar de nós mesmos e de quem está ao nosso redor.
Você quer ver mais temas como esse por aqui? Tem alguma experiência em relação à enchente que gostaria de dividir conosco? Conta pra gente nos comentários!
* Confira também aqui no blog o post Como eliminar mofo após enchente: conheça os riscos para a saúde e como manejar.