Os perigos da automedicação já foram tema de artigo aqui no blog, ocasião em que destacamos que, infelizmente, tomar remédios por conta própria é um hábito comum para cerca de 77% dos brasileiros. Se a automedicação deve ser sempre evitada, no caso dos remédios psiquiátricos os cuidados precisam ser redobrados. É o caso do Zolpidem, medicamento cujo uso virou uma verdadeira epidemia no país.
O Zolpidem já é o segundo remédio controlado mais vendido no Brasil entre ansiolíticos, calmantes e anticonvulsivos, atrás apenas do Rivotril. De acordo com dados da Anvisa, as vendas desse medicamento aumentaram 71% de 2018 a 2020.
Mas afinal, o que está por trás desse aumento do uso? Quando o Zolpidem é indicado? E quais os riscos do uso indiscriminado do medicamento? É sobre essas e outras questões que iremos tratar neste texto. Acompanhe conosco!
O que é Zolpidem?
O Zolpidem é um remédio usado para tratamento de insônia e que chegou ao Brasil em meados da década de 1990. Trata-se de um hipnótico não-benzodiazepínico do grupo das imidazopiridinas. Assim, é um medicamento que atua no sistema nervoso central e possui propriedades sedativas, relaxantes e ansiolíticas.
Como o Zolpidem age?
O medicamento começa a induzir o sono entre 15 e 30 minutos após a ingestão. Por isso, a pessoa em tratamento deve tomá-lo momentos antes de dormir, próximo da cama.
Esse efeito ocorre devido à maneira como o medicamento interage com o receptor GABA (Ácido gama-aminobutírico), que é o principal neurotransmissor responsável por diminuir a atividade do sistema nervoso central. Dessa forma, essa interação resulta na redução da consciência.
Por que o uso se popularizou?
Explicar o porquê da popularização do Zolpidem envolve a análise de pelo menos três fatores principais, quais sejam:
- Flexibilidade no acesso: anteriormente classificado como medicamento tarja preta, o Zolpidem exigia uma receita azul restrita para compra, tornando-o menos acessível. Em dezembro de 2001, a Anvisa retirou o medicamento da categoria de tarja preta, permitindo sua aquisição com uma receita de controle especial, ou seja, menos rigorosa na prática.
- Expiração da patente: a patente do Zolpidem expirou em 2007, possibilitando a produção de genéricos por várias empresas brasileiras. Com a disponibilidade de genéricos, houve um aumento significativo na produção e nas vendas do medicamento.
- Promessa de efeito imediato e bem-estar: o remédio traz ao paciente uma indução de sono muito rápida, em torno de 10 ou 15 minutos após tomar o comprimido, com a promessa de acordar bem no outro dia.
De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem do G1, essas promessas são muito atrativas, ainda mais quando pensamos num cenário em que doenças psiquiátricas como ansiedade e depressão (que afetam a qualidade do sono) são impulsionadas por mudanças profundas na sociedade.
Atualização: a Anvisa divulgou em 15 de maio de 2024 uma nova decisão que modifica o modo de prescrição desse medicamento no Brasil. A partir de agosto, esses comprimidos só poderão ser adquiridos com uma receita especial do tipo B – Azul. Como falamos, até então o Zolpidem podia ser comprado em farmácias com uma receita de controle especial branca, emitida em duas vias.
Por que o Zolpidem é usado de forma indevida?
O Zolpidem é geralmente recomendado para uso por períodos curtos de no máximo três ou quatro semanas, especificamente para a insônia. O problema é que as pessoas começaram a usar o medicamento por períodos prolongados, gerando a dependência, e para outros fins diferentes da insônia.
Devido ao fato de que o medicamento também causa uma sensação de alívio da ansiedade e bem-estar, muitas pessoas passaram a utilizá-lo antes de situações como reuniões e apresentações, e até mesmo como uma substância recreativa.
A psiquiatra Gisele Richter Minhoto, especialista em medicina do sono, alerta em entrevista ao UOL que o uso prolongado e em doses elevadas pode aumentar o risco de dependência, especialmente em pessoas com histórico de abuso de substâncias.
Outro ponto de atenção é que a interrupção do tratamento com Zolpidem nunca deve ser feita sem orientação médica, já que a medida poderia resultar em efeitos indesejáveis como agravamento da insônia e ansiedade.
Quais os riscos do uso indevido do Zolpidem?
Segundo afirma Fernando Gomes, neurocirurgião e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em entrevista ao portal Drauzio Varella, o uso de medicamentos para dormir sem acompanhamento médico pode causar:
- Piora da qualidade do sono;
- Dificuldade de memorização;
- Camuflagem de outros problemas, como depressão e ansiedade;
- Dependência química e psicológica.
É importante ressaltar que até mesmo aqueles que tomam o medicamento em ocasiões específicas, como durante viagens de avião, estão sujeitos a riscos, pois o Zolpidem pode desencadear alucinações, sonambulismo e outros efeitos indesejáveis perigosos, especialmente quando o indivíduo está fora de casa.
Como fazer uso racional de medicamentos que induzem o sono?
- Use apenas remédios para dormir se o médico tiver receitado;
- Siga exatamente as instruções do médico sobre como tomar o remédio;
- Ao tomar o comprimido, vá diretamente para a cama;
- Não use o remédio por mais tempo do que o médico indicou;
- Se sentir efeitos colaterais, consulte o médico imediatamente;
- A longo prazo, adote bons hábitos de sono, como ter horários regulares de sono, bem como criar um ambiente favorável para dormir;
- Informe o médico sobre qualquer outro medicamento que esteja tomando;
- Nunca misture o remédio com álcool.
Em resumo, a utilização responsável de medicamentos indutores do sono é fundamental para garantir sua segurança e eficácia. Portanto, ao seguir as orientações médicas, você está protegendo sua saúde e maximizando os benefícios do tratamento.
Após analisarmos os perigos da automedicação com Zolpidem e os riscos associados ao uso indevido desse medicamento, queremos ouvir sua opinião!
Você já teve alguma experiência com o Zolpidem ou conhece alguém que teve? Tem alguma dúvida sobre o assunto? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo. Sua contribuição é valiosa para aumentar a conscientização sobre esse tema tão importante.
* Confira também aqui no blog o post Uso racional de medicamentos: 5 passos para evitar a automedicação.
** Com informações do portal Drauzio Varella, G1 e UOL.