Identificar um relacionamento abusivo não é uma tarefa fácil, isso porque a violência tem diversas formas e nem sempre deixa marcas. A agressão psicológica, por exemplo, pode ser muito sutil aos olhos de quem está de fora e deixar até a própria vítima com dificuldades de perceber que está sofrendo abuso.
Segundo a edição de 2019 da pesquisa “Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, encomendada ao Datafolha pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 42% das mulheres entre 16 e 24 anos no Brasil sofreram violência em 2018. Diante desse cenário, o Ministério Público de São Paulo lançou no ano passado a cartilha Namoro Legal, um material gratuito que está disponível online e que traz dicas para ajudar a identificar (e sair) de um relacionamento abusivo.
De acordo com a promotora Valéria Diez Scarance Fernandes, criadora da campanha #NAMOROLEGAL, “mesmo mulheres adultas muitas vezes só percebem que estão em uma relação abusiva quando já estão sofrendo muito, isoladas da família e amigos, afastadas do estudo, do trabalho e sem amor próprio”. Por isso, embora a cartilha seja voltada para a conscientização de jovens de 15 a 20 anos, as dicas valem para mulheres de todas as idades.
Confira abaixo um resumo das orientações da cartilha citada acima, converse com suas amigas e lembre-se que estar juntas para o que der e vier é fazer parte das alegrias e também das lutas de ser mulher.
7 PASSOS PARA IDENTIFICAR (E SAIR DE) UM RELACIONAMENTO ABUSIVO
1) Considere as atitudes mais do que as palavras
Muitos parceiros fazem declarações de amor o tempo todo mas ao mesmo tempo têm atitudes explosivas, são autoritários, insensíveis, criticam tudo o que você fala, seu corpo, sua postura, seus amigos e até sua família. Então, abra o olho: mesmo que a pessoa diga coisas lindas, são as atitudes que mostram quem a pessoa é de verdade.
Críticas devem ser construtivas e isoladas, pois se elas forem constantes geram insegurança e atingem sua autoestima. Quem gosta de verdade aceita, apoia e incentiva, não anula a outra pessoa. Se o namoro estiver lhe fazendo mal, procure apoio dos amigos, da família e caia fora!
2) Saiba que ter um espaço próprio é fundamental
Em nenhum relacionamento devemos deixar de ser quem somos em função do outro. Isso significa que é mais do que normal que, mesmo estando em uma relação, você queria manter as atividades e pessoas que gosta. Defenda sempre o direito de ter um tempo para si mesma e um território próprio – físico e mental.
3) Exija os mesmos direitos
Não existe uma lista de comportamentos permitidos ou proibidos para garotas, muito menos impostos pelo namorado. É importante aprender a dizer não e a respeitar seus limites.
Nunca esqueça que você é uma pessoa igual ao seu parceiro, tanto em direitos quanto em escolhas. Isso significa, por exemplo, que a outra pessoa não tem o direito de determinar que tipo de roupa você deve vestir ou quais os lugares que deve frequentar.
4) Não abra mão do seu poder de decisão
Em uma relação legal, cada um mantém a chave da sua vida em seu próprio bolso. Isso quer dizer que você não deve deixar as decisões da sua vida nas mãos do parceiro.
É muito importante não abrir mão daquilo que dá a você o poder de decisão: trabalho, estudos, independência. Quem não tem para onde ir, acaba ficando no relacionamento abusivo por falta de opção, não porque quer ficar. Aí a relação deixa de ser legal, deixa de ser uma escolha e se torna uma prisão. Pessoas dominadoras usam estratégias para tirar essa chave da independência da mão do outro, fazendo com que fique amarrado àquela situação.
5) Não deixe de ter vida fora da relação
Equilibrar a vida pessoal com o namoro e não se afastar das outras pessoas de quem se gosta é essencial para a autoestima e a independência. Se a relação não estiver legal, estar amparada emocionalmente por outras pessoas ajuda a sair dela.
Equilibre a vida pessoal com o namoro. Não deixe de conviver com família nem com amigos. Estar só com outras pessoas faz parte de todo relacionamento saudável.
Mas e se o seu parceiro falar que não deixa? Que sua amiga não é sua amiga de verdade? Ou que tem ciúmes de você? Aí, é preciso ter uma conversa bem séria e, se não rolar entendimento, talvez seja a hora de procurar outra pessoa para dividir a vida.
6) Atente-se para a “montanha-russa de emoções”
Vivenciar explosões seguidas de desculpas ou ser alvo de xingamentos num dia e receber agrados no outro é um ciclo típico do relacionamento abusivo. Se as pessoas dizem, em tom de preocupação que você está diferente depois que começou a namorar, ou se você já teve medo do seu parceiro alguma vez, é hora de ligar o alerta.
A cartilha do Ministério Público exemplifica outras atitudes que podem ajudar você a reconhecer que está em um relacionamento abusivo, na dúvida vale dar uma espiada abaixo.
Se você respondeu sim para algumas dessas perguntas, é hora de estabelecer alguns limites nessa relação. Caso a pessoa não respeite, peça ajuda para pessoas próximas para sair dessa situação, pois o perigo pode estar próximo.
7) Lembre-se que o amor não muda padrões
Não há amor capaz de mudar um padrão que está naturalizado dentro do outro. Ensinaram que cabe às garotas transformar, com seu amor, qualquer um em príncipe encantado. Não acredite na ilusão de que existe conto de fadas e você tem esse poder mágico de transformação. Por mais que você tente e acredite, não há amor capaz de mudar um padrão que está naturalizado dentro de alguém. A pessoa é o que é porque aprendeu a agir assim.
Para violência, não existe justificativa e, muito menos, perdão. Teve medo? Aconteceu algo que não gostou? Levante a cabeça, não sinta vergonha, peça ajuda à família e aos amigos.
Tenha em mente que você nasceu para ser feliz e que toda relação tem que ser legal para as duas partes. E se você quiser falar sobre a sua experiência, ou dar alguma dica que possa ajudar alguém que está passando por um relacionamento abusivo, fique à vontade para compartilhar nos comentários. Afinal, juntas somos mais fortes. ❤
Esse conteúdo faz parte da campanha Mês da Mulher Farmácias Associadas, uma iniciativa que tem a proposta de abordar assuntos relacionados ao empoderamento feminino. Aproveite e confira também o post Será que você é feminista e não sabe? Descubra aqui!.